Perante uma mediatização profunda: a inovação como caminho a seguir

Graças à digitalização, hoje somos confrontados com uma nova fase de mediatização, aquilo a que Couldry e Hepp, no livro The mediated construction of reality (2017) chamam de mediatização profunda. Hepp e Hasebrink (2018) destacam cinco tendências que caracterizam o espaço mediático nesta nova era: a diferenciação, a conectividade, a omnipresença, a inovação e a dataficação.

Mas como é que estas mudanças influenciam diretamente o jornalismo? Kramp e Loosen (2018) seguem o pensamento de Hepp e Hasebrink (2018) e aplicam as cinco tendências acima mencionadas ao universo mediático. No que toca à diferenciação, os autores relacionam-na com os novos meios de comunicação e também com as novas práticas comunicativas que garantem aos públicos novas formas de interação; sobre a conectividade, no campo jornalístico, esta permite uma ligação mais forte e imediata entre os profissionais e os públicos; a omnipresença manifesta-se no feedback e nas contribuições das audiências, que surgem por exemplo nos espaços de comentários; a inovação, que no jornalismo se manifesta a um ritmo crescente principalmente nas tecnologias de comunicação e a dataficação, a partir da qual é possível obter a monitorização do comportamento do público com base em traços digitais que são cada vez mais diversos e que revelam informações sobre preferências, avaliação e envolvimento.

Todas estas tendências mostram um ambiente mediático em transformação, com um foco maior na digitalização, que segundo Kramp e Loosen (2018), tem permitido mudanças não só na produção de notícias como também nas práticas individuais dos jornalistas e das próprias organizações mediáticas. No fundo, a disrupção tecnológica trouxe aos media uma batalha entre novas oportunidades e novos desafios.

Segundo Santos Silva (2021), sempre que os meios de comunicação se encontram num período de incerteza como o que vivemos, há uma tentativa para inovar, que surge como uma necessidade perante os desafios. No campo dos media, Pavlik (2013) argumenta que a inovação assenta em quatro dimensões: criar, entregar e apresentar conteúdos noticiosos de qualidade; envolver o público num discurso noticioso interativo; empregar novos métodos de reportagem otimizados para a era digital e a sociedade em rede e desenvolver novas estratégias de gestão e organização para um ambiente digital, móvel e em rede.

Já nos anos 30 e 40, os jornais foram desafiados pela rádio e consequentemente divulgaram as notícias de uma forma mais interpretativa ao mesmo tempo que expandiram a cobertura fotojornalística. Em 1950, com o surgimento da televisão, a rádio passou a focar-se mais na música e nos relatos desportivos (Gershon, 2013). Mais recentemente, com a entrada no século XXI, os jornais e a televisão foram confrontados com a Internet e os dispositivos móveis. E qual a solução?

Em 2018, Gershon identificou quatro obstáculos à inovação: a tirania do sucesso, onde existe uma perda da noção de urgência em criar novas oportunidades, uma cultura da organização demasiado burocrática, pesada ou agarrada ao passado, a fraca qualidade das equipas de coordenação e um ritmo de desenvolvimento demasiado lento e maioritariamente uma cultura de aversão ao risco.

Mas mesmo com a probabilidade de risco, estudos apontam que a inovação, nas suas várias dimensões, pode ser um caminho para restabelecer o papel do jornalismo. García-Avilés (2021) afirma que a inovação é uma oportunidade para a sustentabilidade, algo que os media tradicionais, com rotinas, produtos e modelos de negócio tradicionais demoraram muito tempo a compreender. Em particular, os estudos analisados sobre o impacto da inovação na sustentabilidade dos media sugerem que uma política de inovação cuidadosamente projetada e baseada em evidências é um instrumento poderoso para aumentar o desempenho jornalístico e económico das organizações e consequentemente garantir a sua sustentabilidade.

Referências Bibliográficas

  • Couldry, N., & Hepp, A. (2017). The mediated construction of reality. Polity Press.                         
  • García-Avilés, J. A. (2021). Journalism innovation research, a diverse and flourishing field (2000-2020). Profesional de la información (EPI), 30(1). Disponível em: https://revista.profesionaldelainformacion.com/index.php/EPI/article/view/86359/6 2908  
  • Gershon, R. A. (2013). Digital media innovation and the Apple iPad: Three perspectives on the future of computer tablets and news delivery. Journal of Media Business Studies, 10(1), 41-61. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/16522354.2013.11073559?needAccess=true    
  • Gershon, R. A. (2018). Three Strategic Approaches to Business Transformation. Handbook of media management and economics, 241.
  • Hepp, A., & Hasebrink, U. (2018). Researching transforming communications in times of deep mediatization: A figurational approach. In Communicative figurations (pp. 15-48). Palgrave Macmillan, Cham.                                
  • Kramp, L., & Loosen, W. (2018). The transformation of journalism: From changing newsroom cultures to a new communicative orientation? In Communicative Figurations (pp. 205- 239). Palgrave Macmillan, Cham.
  • Pavlik, J. V. (2013). Innovation and the future of journalism. Digital journalism. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/21670811.2012.756666?needAccess =true
  • Santos-Silva, D. (2021). Paradigmatic innovation in European cultural journalism: the pursuit of sustainability. The Journal of Media Innovations, 7(1), 95-108. Disponível em: https://journals.uio.no/TJMI/article/view/6523/7230