Inovação no áudio, o caminho que faltava percorrer nos media
Nunca, como hoje, se encontrou um catálogo tão amplo de experiências e de conteúdos sonoros. Há um podcast para cada gosto, coletâneas de áudio livros, filmes com tecnologia IMAX ou Dolby Atmos (som surround) e videojogos com recurso a Realidade Virtual (RV) que têm uma forte componente sonora e imersiva. Do cinema à música, dos videojogos às artes, o som tem vindo a ganhar destaque, especialmente nos media que não são puramente sonoros – a rainha, nesse campo, continua a ser a rádio.
Neste universo multiplataforma e ubíquo, o áudio tem sido a aposta: vejam-se os exemplos portugueses dos jornais Público e Expresso que têm conteúdos em formatos de podcast, ou do jornal americano The New York Times, quenão só utiliza o áudio para conteúdos jornalísticos, como adquiriu a Serial Productions, a empresa responsável pela produção dos podcasts de jornalismo de investigação Serial e S-Town. E isto leva-nos à questão: Porque é que importa inovar em formatos sonoros?
A oportunidade de inovar no áudio tornou-se cada vez mais aliciante, quer ao nível da produção, quer em termos de distribuição, nomeadamente através das plataformas digitais e de smart speakers.
Em termos de conteúdo, torna-se interessante pensar como é que uma narrativa que não é visual pode atrair o ouvinte e como é que o som pode ser utilizado para criar imersão. Há vários caminhos para estas questões, mas dois deles passam, primeiro, pela construção do conteúdo que se vai apresentar. É importante que acrescente valor ao ouvinte através da sua narrativa ou do seu formato, dado que não existe nenhum suporte visual; e segundo, pelo tipo de som que é utilizado.
Áudio mono e stereo são os mais comuns, mas nas últimas décadas o áudio espacial, nomeadamente o som binaural, tem ganho uma nova dimensão nas narrativas jornalísticas e na produção de conteúdos. Este tipo de som tridimensional é utilizado cada vez mais em podcasts e tem sido pontualmente aplicado em conteúdos jornalísticos de rádios públicas como a BBC(Reino Unido), a Radio France (França), o Lab RTVE.es (Espanha) ou a Antena 1 (Portugal).
Estas experiências sonoras e o consumo crescente de podcasts (apontam os dados da Reuters Institute Digital Report dos últimos três anos) indicam que vivemos na “fase dourada do som”: Hoje é possível ouvir uma proteína do novo coronavírus ou vivenciar todas as paisagens sonoras a três dimensões do parque da Disneyland sem nunca o ter ido visitar. Tudo porque a inovação no som pode ser feita numa vertente mais tecnológica, através de conteúdos como o Data Sonification (sonificação de dados) ou do som binaural, ou numa vertente narrativa, com a aposta em rádio novelas, áudio dramas ou estórias com uma forte componente de sonoplastia.
É deste modo que a importância do áudio tem vindo a crescer – quer na tecnologia, quer na narrativa – porque permite aos media criar ou melhorar conteúdos jornalísticos através do som, e dar a oportunidade ao ouvinte de consumir um conteúdo diferente do visual ou do escrito, uma imersão feita apenas com estímulos sonoros ou da palavra falada. Este caminho trilhado na inovação sonora, cada vez mais interessante e aliciante, faltava aos media, principalmente à rádio, o médium etimologicamente sonoro.